No mês dos Namorados, poetisa Andrea Peregrinelli lança seu “diário do pecado”
“Teu falo saliente e majestoso consagra-me – pão e vinho, eleva-me – imaculada e puta, suscita-me – perecível, nua e crua: – Estado de graça! Santa e pecadora.” Intenso. Provocador. Controverso. Dual. Contraditório, assim como os que pregam a santidade, mas cultivam a luxúria. Essas são as primeiras impressões (superficiais) a respeito das poesias que compõe o novo livro de Andrea Peregrinelli, “Eu sou o pecado, a paixão, o prazer… Cecília”.
Em uma sociedade ainda conservadora e enraizada no catolicismo, é necessário ter muita coragem e ousadia para falar de sexo e do sagrado no mesmo discurso. Certa vez o Padre Fábio de Melo afirmou em uma pregação: “tentar traduzir em palavras aquilo que se vive, é correr o risco de banalizar aquilo que se sente. Então não fale!”, mas em seu novo livro Andrea prova que na vida é necessário se arriscar para expressar aquilo que seu corpo, alma e coração sentem.
Transformar o pecado original de Adão e Eva em algo sublime é dom daqueles que não vivem apenas por viver e fazem do sexo um ato mecânico. Como fazer poesia sobre aquilo que não se sente de verdade? Quase impossível. Na poesia não cabe a ficção dos romances, somente as dores, alegrias e prazeres do poeta. Em cada linha do livro de Andrea, sentimos com ela o calor do momento, a paixão a flor da pele, o amor feito com zelo, o divino que há na união entre dois seres que se completam, e por fim, o orgasmo que liberta e a inspira.
A maioria das pessoas vivem com medo de morrer, e por isso não se entregam intensamente em suas experiências e relações. Em pleno século XXI, onde as mulheres podem votar, trabalhar, e até mesmo ser presidente, muitas delas ainda não sabem o que é um orgasmo, pois estão sufocadas por seus medos, preconceitos, falso pudor, censuradas pela sociedade que não extinguiu seu patriarcalismo. Entrevistas apontam, orgasmar (sim, ele agora é um verbo!) é como morrer várias vezes. Mas esta é a morte do banal e daquilo que nos faz fracos, é renascer para o mundo com novas e boas “energias”. Então porque temer e não viver intensamente?
Em seu último álbum chamado “Sexo”, Erasmo Carlos encanta: “Primeiro foi o sexo que ardeu até o osso. Incandesceu meu sangue, queimando minha alma” e canta: “Tudo bem que toda santa é mulher, mas dizem que nem toda mulher é santa. Pelo menos nos altares onde andei, Vi santas mulheres, nas mulheres santas que amei”. Assim como o cantor, Andrea se vira do avesso e expõe seus sentimentos, misturando a sutileza do divino e a força animal do desejo, nos fazendo concordar com Marilyn Monroe quando disse “O sexo faz parte da natureza. Eu só a sigo.”
Na igreja católica acredita-se que um casamento só é consumado após o ato sexual, sem ele não existe marido e mulher. Percebe-se, aí, o sagrado que há no ato sexual. Ler “Eu sou o pecado, a paixão, o prazer… Cecília” é como se redimir do pecado de nunca ter feito amor de verdade, na língua do vaticano (os poemas estão em português e italiano) reaprendem-se a sentir, “Poema de carne e osso, cala-me em pequenas preces que orfeto-te todo o orgasmo de dentro de mim para ungir-te satisfeito e florioso.”
Serviços:
Lançamento
Dia: 21 de junho
Hora: às 20h
Local: BSpace; Rua Eduardo Ferragut, 145,, Jd. Itália – Vinhedo/SP
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FORA DE MIM
Tudo ou quase tudo
é loucura-Sen santidade!
A mente sem equilibrio:
– A carne excita pecar.
Peco sem retirar o véu…
Não perturbo a salvação!!!
Fora ou dentro de mim
sou livre…
MALDITO BEM
Bem-me-quer
devota em tua cama
a salvar tu’alma
e condenar o teu bem-aventurado corpo…
Mal-me-quer
vestida, casta, lúcida
a afastar de tua pele quente e lúbrica,
de tua savra-insanidade…
Obs.: Texto publicado no caderno Sirva-se, do JC, em 15.06.2012